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Policiais civis sinalizam: crise está longe do fim
Por Manuela Rolim
Categoria exige os mesmos benefícios propostos à PM. Militares ainda analisam possibilidades.
A reunião dos representantes de associações da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros com o governador Agnelo Queiroz para discutir as melhorias exigidas pelos militares e colocar fim à Operação Tartaruga não foi suficiente para acalmar as categorias. Pelo contrário, o encontro motivou a Polícia Civil a se manifestar e exigir os mesmos benefícios que os militares poderão receber do governo. …
Segundo o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol-DF), Ciro José de Freitas, a categoria espera um tratamento igualitário na questão remuneratória. De acordo com ele, a Polícia Civil vai impor a mesma porcentagem (22%) de aumento prometida à PM, sendo que para os civis a melhoria será no auxílio- alimentação e no subsídio do plano de saúde. No caso dos militares, serão reajustados os auxílios alimentação e moradia, escalonados em três anos.
Tratamento igual
Além disso, a categoria cobra um projeto que reconhece todos os cargos da Polícia Civil como superiores, que ficou pendente desde a última greve em 2012. “Se o governo tem condições de ajudar a Polícia Militar, terá que encontrar uma forma de colaborar com os nossos policiais também”, declarou Ciro. Ele alertou que a Polícia Civil irá reagir da mesma maneira que a PM caso não seja atendida, com greve.
“Tudo vai depender do comportamento do governo. É um ano difícil, de crise e de grandes eventos, não vamos permitir que apenas as categorias que paralisam o trabalho e reivindicam seus direitos sejam escutados”, completou Ciro, que afirma não concordar com a equiparação salarial das categorias.
Para ele, os salários precisam ser diferenciados, tendo em vista que as atividades desempenhadas por policiais militares e civis são diferentes. “É preciso fazer uma análise da complexidade de cada cargo, são coisas distintas. Mas acho que os militares estão no direito deles de exigir mudanças”, concluiu.
Impasse
Do mesmo modo, o presidente da Associação dos Oficiais Reformados da PM (Asor), Mauro Brambilla, diz respeitar as reivindicações da categoria oposta. Para ele, o clima deve ser de conciliação e não de confronto. Segundo Brambilla, ainda que a expectativa em relação a proposta seja positiva, o impasse só termina com a decisão da categoria, o que deve ocorrer por meio de assembleia.
“Planejamos uma assembleia na segunda à noite na Praça do Relógio, em Taguatinga”, afirmou. Durante o dia de ontem, a expectativa ainda era de receber a proposta por escrito do governo, o que ocorreu no fim da tarde. Só depois da entrega do documento seria possível analisá-lo, disse Brambilla.
Ainda há ajustes
Representante dos PMs, Mauro Brambilla ressaltou o interesse da categoria nas melhorias oferecidas pelo governo, porém, ainda existem mudanças a serem feitas. Segundo ele, o aumento no auxilio-moradia, que ficou para setembro, será exigido antes da Copa do Mundo, de preferência em maio. Já o auxilio-alimentação ficou acertado para julho. De acordo com o GDF, a proposta já foi às associações e, inclusive, publicada no site da PM. Em relação à Polícia Civil, o GDF disse que não pode se posicionar sobre o assunto, pois “não trabalha com hipóteses”.
Proposta
1 Aumento de 22%, escalonado em três anos
2 Um primeiro acréscimo, em julho de 2014, de R$ 200 no auxílio-alimentação, que passará de R$ 650 para R$ 850.
3 Os demais aumentos incidirão no auxílio-moradia, reajustado ao longo de três anos, sempre em setembro, a partir de 2014. O menor reajuste será de R$ 365 e o maior, de R$ 1,2 mil, por ano, dependendo da tabela remuneratória de cada corporação. Com isso, o teto desse auxílio, que não era atualizado desde 2002, pode chegar a R$ 3,6 mil até 2016.
4 Com o reajuste dos benefícios, o GDF garante que, em 2016, um coronel ganhará o mesmo que um delegado: R$ 21 mil.
5 Já um subtenente receberá R$ 12 mil após o reajuste. Este é o mesmo valor pago a um agente da Polícia Civil no final de carreira.
Enquanto isso, mais protestos
Enquanto o governo e as categorias não encontram uma solução, a população continua preocupada com o clima de medo e insegurança que persiste em várias regiões administrativas do Distrito Federal. Muitos cidadãos, inclusive, ainda encontram força para protestar por mudança. Esse é caso do líder comunitário de Taguatinga Charles Guerreiro, 45 anos.
Ele montou uma estrutura em frente à residência oficial do governador, em Águas Claras, na manhã de ontem, para reivindicar melhorias na segurança pública. No entanto, o protesto foi interrompido, por volta das 13h, pela Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis), que recolheu a barraca. Isso porque, segundo a legislação, ocupações com barracas ou qualquer outro tipo de estrutura, em área pública e sem permissão, são consideradas ilegais.
O líder comunitário montou uma estrutura que, segundo ele, simboliza como as casas no DF devem ser equipadas, para que as pessoas não corram risco. Ou seja, com muros altos, câmeras de segurança, cercas elétricas e até arames farpados.
“As coisas só vão mudar quando a população se mobilizar. Não podemos mais admitir o clima de terror que estamos vivendo. A maioria dos meus familiares e amigos já foi assaltada. Eu, inclusive, perdi meu computador há um mês dentro do estacionamento de um shopping, quando fui abordado por um bandido. Viemos cobrar do governo a mesma segurança que eles proporcionam para as famílias deles aos nossos parentes”, declarou.
Novas ações
Essa é a segunda vez que Charles faz um protesto parecido. No último sábado, ele montou a mesma estrutura ao lado de uma base da Polícia Militar, na Praça do Relógio, em Taguatinga.
“O nosso objetivo era passar 24h no local do protesto, mas não foi possível. Se nada for feito pela segurança da população, nos próximos dias vamos colocar a mesma estrutura na frente da residência oficial da presidente Dilma Rousseff”, informou.
Manifestação
Moradores de Santa Maria marcaram uma manifestação para esta manhã, na Praça Central, a partir das 9h30. O objetivo é pedir mais segurança e protestar contra o aumento da criminalidade na região.
Ponto de Vista
Diante de toda a expectativa em torno da isonomia salarial da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros com a Polícia Civil, o especialista em segurança pública Antônio Testa acredita que, ainda que o governo tenha apresentado uma proposta aos representantes das categorias, nenhum aumento nas gratificações deverá acontecer. “É preciso aguardar o desfecho dessa história, mas acredito que o governo está ganhando tempo e acalmando os ânimos. Nenhum benefício deverá ser concedido a nenhuma das categorias. Seria muito arriscado para a imagem do governo, tendo em vista que é um ano de eleição”, opinou. No entanto, caso os policiais e os bombeiros militares sejam beneficiados de alguma maneira, Antônio garante que o futuro será de crise na Polícia Civil. Para ele, resolver o problema com os militares e não agraciar os civis com melhorias pode piorar o impasse. “Será apenas a transferência do problema de um lado para o outro. Ao perceber que o governo está ajudando os militares, a Polícia Civil vai reagir da mesma maneira, exigindo seus direitos”, completou.