Pesquisa da UCB extrai ouro do lixo e preserva o meio ambiente
Projeto de pesquisa desenvolvido na Universidade Católica de Brasília é reconhecido em diferentes países como modelo de sustentabilidade, reaproveitamento e soluções para o lixo eletrônico
Você sabia que cerca de 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico são gerados por ano no mundo? E que entre os países emergentes, o Brasil é o que mais gera lixo eletrônico por habitante? Os dados apontados pelo Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma) mostram que a cada ano o nosso país descarta cerca de 97 mil toneladas de computadores, 2,2 mil toneladas de celulares e 17,2 mil toneladas de impressoras. Só fica atrás da China e Estados Unidos.
Com essa preocupação, em 2010 os cursos de Tecnologia da Informação (TI) da Universidade Católica de Brasília (UCB) criaram o Projeto de Extensão “Reiniciar: E-Lixo Universitário” com a proposta de oficina prática e inclusão digital na UCB, por meio do reaproveitamento e remontagem de configuração de máquinas. Desde 2015 o projeto foi reformulado e transformado em pesquisa, o que gerou novos avanços, descobertas e reconhecimentos internacionais.
A professora Graziela Ferreira Guarda, coordenadora do projeto na UCB, explica que o E-lixo desenvolve pesquisas dentro da temática do Lixo Eletrônico com dois grandes eixos: a hidro metalurgia, por meio da lixiviação, que é um processo químico de transformação da matéria prima. “Nós pegamos os pinos das placas de equipamentos eletrônicos e fazemos o choque com ácidos. Desse processo temos a modificação da matéria-prima, transformada em pó (ouro ou prata) e submetida à análise”, explica. E as pesquisas com lisímetros. “Onde inserimos o lixo eletrônico na natureza, em um ambiente simulado, e mapeamos os impactos que eles causam. Nós observamos o que a natureza pode sofrer com a contaminação desses metais tóxicos”, complementa a coordenadora.
Atualmente o projeto E-lixo é financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) e conta com o apoio de outros cursos como Relações Internacionais, Engenharia Ambiental e Sanitária e o curso de Química. Tem produzido resultados significativos com a extração de ouro e prata e, agora, inicia a extração do Índio (In), um metal raro e muito versátil, presente nas telas de celulares. “Nossa proposta é tirar do lixo alguma coisa que tenha valor. Estamos transformando a matéria-prima, removendo o material que constituem essas placas e fazendo um reaproveitamento desses materiais. Fora isso, trabalhamos o viés ambiental, com a proteção da natureza. É uma forma de reduzir essas contaminações causadas por esse lixo descartado”, ponderou Graziela
TI Verde – Uma preocupação do projeto E-lixo
A indústria de equipamentos eletroeletrônicos é umas das que mais cresce no mundo. A modernização e a diversidade de equipamentos promovem uma cultura de consumo e descarte desses objetos, gerando um grande problema ambiental. “As estatísticas mostram que o consumo no Brasil é muito grande. Em média esses equipamentos são trocados a cada seis meses”, afirmou a professora.
O estudante do 7º semestre de Engenharia Ambiental e Sanitária da UCB, Marcelo Silva dos Santos, bolsista no projeto E-lixo, explica que uma das propostas do projeto é fazer com que o lixo eletrônico capturado, normalmente descartado em aterros sanitários, lixões, no meio ambiente sem nenhum critério de avaliação de coleta, retome para a cadeia produtiva. “Todo esse lixo é composto por polímeros, ferro, cobre e metais preciosos. Então, conclui-se que a reutilização é economicamente lucrativa e ambientalmente correta. O resultado da extração desse material pode voltar à cadeia produtiva em outra forma, às vezes, até da mesma forma, porque se quiser reutilizá-lo em equipamentos eletrônicos não tem problema”, afirmou o futuro engenheiro.
A rentabilidade econômica é a linha de pesquisa do Vitor Neves Palmeira, estudante do 7º semestre de Relações Internacionais. Há pouco mais de um ano no Projeto E-lixo, Vitor investiga o comércio internacional do lixo eletrônico. “Existem grupos ilegais, de crime organizado, que trabalham com isso. É um mercado que envolve muito dinheiro, justamente por essa questão da extração de ouro. Esses grupos acabam retirando o lixo eletrônico de grandes produtores como a União Europeia e Estados Unidos e enviam de forma clandestina para os países da África, da Ásia e principalmente da China para fazerem a extração”, revela. Vitor Neves afirma que mesmo com a Convenção de Basiléia, que procura coibir o tráfico ilegal e prevê a intensificação da cooperação internacional para a gestão ambientalmente adequada desses resíduos, falta fiscalização e o crime ocorre.
Já Regianne Sousa Martins, também integrante do E-lixo há pouco mais de um ano, pesquisa a parte de política nacional de resíduos sólidos, principalmente a logística reversa do uso dos equipamentos eletroeletrônicos. “A política reversa é a responsabilidade compartilhada desses equipamentos, indo desde o produtor até o consumidor, no ciclo de início e fim da vida útil desses objetos. Como já existe uma lei de responsabilidade, eu quis saber se as empresas estão cumprindo ou não a lei”, explica Regianne. A pesquisadora identificou que de 5 empresas fornecedoras, apenas duas recolhem os equipamentos que perderam a vida útil. Dessas, a Itautec é uma referência. Outra descoberta da estudante foi a coleta realizada por empresas que não produzem, mas que apenas comercializam e recolhem o lixo eletrônico, como a Leroy Merlin.
Regianne Martins afirma que uma saída para as empresas reduzirem a quantidade de lixo eletrônico no mundo, seria a virtualização dos equipamentos e o reaproveitamento do lixo eletrônico. “Quando elas recolhem, elas podem de forma legal, ter retorno financeiro com esses equipamentos”.
Como sugestão de solução para o fim do lixo eletrônico global, Marcelo também aponta uma educação ambiental, tal qual as pessoas conhecem atualmente. “Existem as coletas seletivas de lixo orgânico, seco, vidro, papel, eu penso que deveria popularizar a consciência da coleta do lixo eletrônico. Isso facilitaria um descarte consciente e a reutilização desse lixo”, sugere.
Reconhecimento Nacional e Internacional
Os artigos desenvolvidos pelo projeto de pesquisa E-lixo da Universidade Católica de Brasília têm recebido reconhecimento e são apresentados em congressos internacionais. Recentemente, o E-lixo foi apresentado no Congresso Interamericano de Resíduos Sólidos, em Cuenca, no Equador, ocorrido de 25 a 28 de abril. Esse evento é o mais importante de resíduos sólidos organizado pela AIDIS – Asociación Interamericana de Inginería Sanitaria Ambiental, e acontece a cada 2 anos, em diferentes países da América Latina. A UCB foi a única universidade particular brasileira presente no evento, ao lado outras instituições federais de Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Bahia. “Nesta oportunidade, identifiquei que a Universidad de Lima – Perú, bem como a Pontifícia Universidad Católica de Chile, estão produzindo pesquisas similares as nossas. A ideia é estreitarmos os laços para produzirmos juntos pesquisas comparadas entre os países, sobre lixo eletrônico e legislação”, explica a professora Graziela.
No segundo semestre haverá apresentação da publicação referente ao projeto E- Lixo, em San Margherita di Pula, na Itália. Esse é um dos simpósios mais importantes do mundo na área, e o estudante Vítor Neves fará apresentação de sua pesquisa.
Foto: Faiara Assis
Pesquisadores do projeto E-lixo
Informou UCB