Após o governo de Cuba anunciar que deixará de atender pelo Programa Mais Médicos no Brasil, os 20 profissionais da ilha no Caribe trabalhando no Distrito Federal sairão de seus postos e devem retornar ao país de origem.
A medida foi anunciada após as autoridades cubanas discordarem de uma série de exigências impostas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para a permanência dos participantes estrangeiros do programa.
Os 20 estrangeiros compõem equipes de Estratégia de Saúde da Família e atendem em unidades básicas de saúde (UBS) nas regiões centro-sul, sul, oeste, leste e norte do DF, unidade da Federação com a menor concentração de médicos do programa, criado no primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT).
Além do atendimento aos pacientes, os profissionais realizam também, ao longo do período da iniciativa, curso de especialização e aperfeiçoamento em atenção básica.
Os médicos recebem o pagamento por meio de uma bolsa de pouco mais de R$ 11 mil mensais, além de auxílio-alimentação e moradia. A maior parte dessa cifra, porém, é remetida a Havana. A igualdade salarial e a submissão dos participantes do programa à revalidação de diploma eram duas das condições impostas por Bolsonaro para a permanência dos trabalhadores.
Risco de desassistência
Em municípios de até 10 mil habitantes, o programa é responsável por 48% das equipes de medicina de atenção primária à saúde. Em 1,1 mil municípios, a cobertura na atenção básica é 100% composta pelo Mais Médicos.
Em 2017, o Ministério da Saúde anunciou medidas para priorizar vagas a médicos brasileiros que desejassem participar do programa. Oportunidades inicialmente previstas para cubanos passaram a ser disponibilizadas para profissionais brasileiros formados no exterior.
Ainda no ano passado, a medida de priorizar brasileiros já esbarrava em um problema: a rotatividade. Médicos brasileiros ficam tradicionalmente um período muito curto no programa. Não é raro eles desistirem para ocupar vagas em cidades maiores.
Com profissionais cubanos, em contrapartida, há a tendência de que eles permaneçam pelo menos três anos no posto ao qual inicialmente foram encaminhados, conforme dados do Ministério da Saúde.
Aos médicos daquele país eram destinadas vagas que, tradicionalmente, são consideradas pouco atrativas por profissionais brasileiros, como áreas de difícil acesso e distritos sanitários indígenas. (Com informações da Agência Estado).