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Mitos e verdades sobre a tomografia no contexto da Covid-19
Exame de imagem é importante no acompanhamento a pacientes. Diagnóstico, entretanto, é realizado por coleta de material do fundo da cavidade nasal
A pandemia do novo coronavírus, que já consta mais de 12 mil mortos e cerca de 180 mil pessoas infectadas no Brasil, tem trazido inúmeras transformações no mundo todo, alterando de forma profunda a vida da população. Na luta contra a Covid-19, doença causada pelo vírus, uma das armas mais eficazes é a informação.
Mas, em meio a tanto material acerca do assunto veiculado na mídia e nas redes sociais, como não podia deixar de ser, surgem também os mitos. O papel do exame de tomografia no contexto da Covid-19, por exemplo, tem sido cercado de suposições. Para sanar algumas dessas dúvidas, o doutor Anderson Benine Belezia, coordenador médico e responsável técnico da empresa Diagnose, prestadora de serviço ao IGES-DF, esclarece mitos e verdades sobre a tomografia.
Médico radiologista formado na PUC-SP e na Beneficência Portuguesa de São Paulo, Belezia acumula uma década de atuação na Medicina. Ele explica detalhadamente o que se pode obter a partir da tomografia e do raio X, além dos protocolos de higiene das instituições médicas.
1 – A tomografia faz o diagnóstico de Covid-19.
>> MITO
– O que é a Tomografia Computadorizada: trata-se de um exame de imagem que, assim como os estudos radiográficos, utiliza radiação para a captação de imagens. Ela possui uma excelente resolução espacial e a capacidade de reconstrução multiplanar e 3D, tornando seu uso e avaliação bastante superiores aos estudos radiográficos.
– Quando ela é de fato útil: em uma porcentagem significativa dos pacientes, ela é capaz de evidenciar comprometimento do parênquima pulmonar em pessoas com Covid-19. Deve-se lembrar quem nem todo paciente com infecção pelo vírus Sars-COV2 possui alterações no exame.
– Para quem é indicada: depende do protocolo da instituição médica, mas em geral é reservada para casos suspeitos com achados clínicos moderados e graves, bem como para acompanhamento de pacientes internados. Alguns serviços ainda utilizam na ausência de testes laboratoriais para diagnóstico presuntivo, ou seja, quando os achados são altamente sugestivos em conjunto com os dados clínicos.
– Então, como é feito o diagnóstico: o diagnóstico definitivo está sendo feito por uma técnica chamada PCR (Polimerase Chain Reaction) de material colhido da nasofaringe (região no fundo da cavidade nasal). Colhido por uma técnica chamada “swab”, ele identifica fragmentos do material genético do vírus. Novos testes como a identificação dos anticorpos contra o vírus identificados no sangue do paciente também têm sido usados recentemente.
2 – A tomografia é indicada para todos os suspeitos de Covid-19.
>> MITO
– Qual o papel da tomografia no contexto da Covid-19: o estudo de casos leves, sem alterações respiratórias, podem não ter benefício por tomografia computadorizada, já que o resultado do exame não mudaria a conduta médica. Seu uso deve ser realizado de acordo com a indicação pelo médico que está atendendo o paciente para auxílio no diagnóstico bem como para avaliação do comprometimento pulmonar (se leve, moderado ou acentuado caso exista) e acompanhamento do tratamento e resposta aos cuidados pelo paciente.
3 – Vidro fosco sempre indica Covid-19.
>> MITO
– O que é o vidro fosco: trata-se de uma alteração do parênquima pulmonar no estudo tomográfico onde há aumento dos coeficientes de atenuação ao exame. De forma simplificada, é uma alteração onde o parênquima pulmonar, que deve ser observado no exame como uma área preta (mais escura), aparece de forma mais clara ou mais acinzentada que o normal. Entretanto, ainda mais escura do que geralmente é encontrada em outras alterações, tais como pneumonias bacterianas por exemplo, as quais descrevemos como consolidação.
– Em que situações ele pode aparecer: em muitas condições, como pneumonias virais – tais como infecções pelo Sars-COV2, H1N1 e outros vírus influenza –, outras infecções pulmonares não virais, hemorragias alveolares/pulmonares, processos inflamatórios pulmonares não infecciosos, pulmões não adequadamente expandidos, broncopatias diversas, alguns tipos de neoplasias pulmonares como o adecarcinoma de crescimento lepídico, dentre outras inúmeras doenças.
4 – O raio X é totalmente dispensável quando o assunto é Covid-19
>> MITO
– O que é o raio X: trata-se de um exame com menor sensibilidade, mas que pode trazer informações importantes, tais como excluir outras doenças que podem cursar com sintomas clínicos semelhantes.
– Qual o papel do raio X no contexto da doença: por possuir menor sensibilidade, pode ser utilizado quando o serviço de saúde não dispõe de aparelho de tomografia computadorizada e para acompanhamento dos pacientes já diagnosticados.
5 – O coronavírus pode ser transmitido durante a realização de uma tomografia ou Raio X.
>> DEPENDE
– Higiene é fundamental: respeitando-se os protocolos de higienização dos equipamentos, bem como os cuidados com EPIs (Equipamento de Proteção Individual) dos colaboradores, este contágio é praticamente inexistente, desde que o serviço disponha de boas práticas de higiene.
– Protocolos são diferenciados: Deve se observar que cada instituição médica tem seu protocolo de higienização. No Hospital de Base, as salas de exames de imagem seguem rigorosos processos. Em caso de suspeita ou confirmação de Covid-19, o local de exame é isolado e os profissionais atendem com toda a paramentação. Além disso, todo o ambiente passa por limpeza profunda, com sanitizantes e álcool 70o. E, após o exame, a sala fica 15 minutos desocupada e recebe ventilação.
Por Ivana Antunes
Da redação do Gama Cidadão – 22/05/2020