Novaes é o terceiro secretário desde de que se iniciou o governo Rollemberg. Embora tenha alegado motivos pessoais e ter entregue carta solicitando sua exoneração, sabe-se que ele não resistiu à pressão e pediu para sair.
Vamos às claras: essa saída foi provocada pelo fogo de monturo de um movimento corporativo inserido na Secretaria de Segurança Pública que está a insistir no aumento de salários. Os policiais civis não desistem do pleito de ter seus salários equiparados ao salário dos policiais federais e remam contra a correnteza dos cofres do Buriti. Quando menos se espera, lá vêm eles pressionando o executivo por aumentos salariais. Como se ganhassem pouco! O salário de um policial civil em início de carreira está acima dos 8 mil mensais e pode chegar aos 18 mil. E hajam benesses! Mesmo assim os caras ainda têm coragem de pleitear aumento mesmo diante de uma crise como a que assola o país. Herança maldita de um sistema sindical que só pensa naqueles que estão empregados.
No meio desse fogo de monturo, e apesar dele, em 3 anos de Governo de Rollemberg, ficaram os antigos secretários, dois homens que desistiram em 10 meses e uma mulher que resistiu 15 meses. A mulher a que nos referimos é a senhora Márcia de Alencar que foi a única a apresentar um plano de ação para a segurança do DF e ocupou cargo no ano de 2016, período mais difícil da história da Secretaria de Segurança Pública do DF.
Atentemo-nos para o fato de que foi exatamente por apresentar um plano de ação mais humanizado para a Secretaria de Segurança Pública da capital federal que Márcia de Alencar foi rechaçada. Vamos de novo às claras: o projeto proposto foi elaborado por uma mulher, fato surpreendente dentro de uma corporação de machos. O governo parece não ter percebido ou não ter tido pulso para garantir o trabalho de Márcia que pensa a segurança como questão de bem-estar social.
Em seu discurso de posse, Márcia deu créditos às prerrogativas do governo, sobretudo no que tange à gestão sustentável propalada por Rollemberg nas “Roda de Conversa”. Ela usava o termo “segurança transversal” ou transdisciplinar com firmeza para direcionar o trabalho da segurança pública.
Márcia de Alencar mora em Brasília tempo suficiente para assimilar os desejos e anseios do povo da capital.
Com um currículo primoroso, poderia ter norteado toda a política governamental em torno da segurança pública. Mas, além do fogo de monturo que a queimou também, foi vítima de uma corporação machista. Uma mulher não poderia dar as cartas.
Psicóloga, Bacharela em Direito, Mestre em Sociologia, com especialização em Gestão Pública, a senhora Márcia de Alencar esteve à frente do Ministério da Justiça, atuou como consultora no campo das alternativas penais e, também, prestou consultoria para as Nações Unidas (ONU), em Moçambique, trabalhando em projetos de prevenção à justiça criminal. É autora do Manual de Monitoramento de Penas e Medidas Alternativas publicado pelo Ministério da Justiça, em 2002. Experiência, portanto, não lhe falta(va) para exercer trabalho com abonação e equilíbrio emocional na Secretaria de Segurança Pública do DF.
Márcia de Alencar, atualmente na assessoria especial da Governadoria. Foto: Mary Leal/Agência Brasília