A economista Macele Virgine sempre acreditou que o problema de concentração do seu filho – hoje, com 9 anos e aluno da Educação Básica – fosse relacionado à idade. Por esse motivo, procurou o auxílio de um psicólogo para ajudá-lo a entender e lidar melhor com suas dificuldades. Com a terapia, o comportamento dele passou a apresentar uma melhora, mas o desinteresse pela escola continuava o mesmo.
Segundo Macele, antes do medicamento, o seu filho só conseguia prestar atenção no que lhe despertava interesse. “Ir à escola sempre foi um sacrifício. Ele não tinha paciência para estar naquele ambiente e, por isso, ficava irritado. Além disso, acabava se irritando também com os colegas em sala de aula e, algumas vezes, apresentava um comportamento agressivo”, contou a economista.
Há pouco mais de um ano, o pequeno foi diagnosticado com Hiperatividade e passou a fazer o tratamento com Ritalina – medicamento de uso continuo que tem como princípio ativo o Cloridato de Metilfenidato. Com início do tratamento, a mudança foi notória. Ele passou a se concentrar mais, seu problema de disgrafia – deficiência na habilidade para escrever – melhorou e ele também passou a conviver em harmonia com os colegas de sala.
A Ritalina é um estimulante do sistema nervoso central que traz calma e foco para crianças e adultos que sofrem com o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e outros transtornos como dislexia e dificuldade de aprendizado. Por ser um remédio de uso continuo, ao deixar de ser consumido, as disfunções associadas à doença voltam.
A falta do medicamento nas prateleiras das farmácias tem sido um problema constante os últimos meses. “Eu já tive que ir em outra cidade para comprar o remédio. Ele estava em falta em todas as farmácias. Quando você ligava, recebia a informação que ainda tinha uma ou duas caixas e quando chegava para comprar, não encontrava nada”, relembra a economista, cujo filho chegou a ficar dois meses sem o medicamento.
De quem é a culpa?
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostra que o número de caixas de Ritalina vendidas no Brasil saltou de 2,1 milhões em 2010 para 2,6 milhões em 2013. E, segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil se tornou o segundo mercado mundial no consumo do metilfenidato – composto químico da Ritalina – apontando para um aumento de 775% no consumo do medicamento desde 2004 no país.
Diante de tanta procura, surge a dúvida: o que tem causado a falta do medicamento nas farmácias? Entre as hipóteses, a descontinuação da fabricação/importação do medicamento e o uso indevido de estudantes que compram a Ritalina para aumentar o foco e passar mais tempo concentrado para alcançar o objetivo de ingressar em uma faculdade, concurso público ou obter aprovação no Enem.
A neuropediatra Rachel Silvany também desconhece a real causa da falta da Ritalina nas prateleiras mas destaca que o rigor para a compra desse medicamento é fundamental. “A receita para compra da Ritalina é amarela e controlada pela Anvisa. É uma receita especial e que só alguns médicos têm acesso. Por esse motivo, é necessário um rigor extremo nas farmácias. Esta medicação só pode ser vendida com retenção da receita”, pontuou.
A especialista alerta para os cuidados que se deve ter antes de iniciar um tratamento com Ritalina. “Antes de prescrever a Ritalina para os meus pacientes, eu peço que eles façam uma avaliação cardiológica. Caso a pessoa possua um problema de arritmia, por exemplo, o remédio deve ser evitado”, explica a neuropediatra frisando bem que a ritalina não causa arritmia mas, em pacientes que já possuam a alteração, o problema pode ser agravado.
Por ser um estimulante do sistema nervoso central, o remédio também aumenta o risco de distúrbio do sono, podendo causar insônia; reduz o apetite e pode provocar cefaleia – dor de cabeça. E, por causar tantos efeitos colaterais, os cuidados ao tomar a medicação precisam ser redobrados. “A Ritalina só deve ser usada com uma indicação precisa do médico. É inadmissível uma pessoa dizer que vai fazer um concurso e começar a fazer uso da medicação”, reitera.
No tratamento de pacientes com TDAH a medicação é necessária mas nunca deve ser o único recurso terapêutico adotado. Acompanhamento com o psicopedagogo e psicólogo são fundamentais para o sucesso do tratamento, que deve ser sempre multidisciplinar. “Um paciente com TDAH, geralmente, tem problemas como autoestima e baixo desempenho acadêmico. Então, o acompanhamento com outros profissionais é essencial para que a criança consiga melhorar outros pilares da sua vida”, assegurou.
Apesar do TDAH ser uma alteração de comportamento crônica, a especialista acalma o coração dos pais ao assegurar que a medicação não será usada, necessariamente, durante toda a vida do paciente. “Cada tratamento é individualizado. Tem pessoas que precisam usar o medicamento por mais tempo, outras por menos. É necessário analisar cada indivíduo”, concluiu.
Fonte: Bárbara Maria – Ascom Educa Mais Brasil