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Cemi do Gama é referência em ensino público no DF
A escola, que foi inaugurada em 2006, tem baixa evasão estudantil e os alunos, para entrar, disputam a vaga em concurso público. No último exame, mil inscritos disputaram 80 vagas
Uma escola pública no Distrito Federal se destaca das demais. No Cemi (Centro de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional) do Gama, o ensino, além de profissionalizante, também é em tempo integral.
A escola, que foi inaugurada em 2006, tem baixa evasão estudantil. “Depois que os alunos se adaptam ao ritmo intenso da escola, a evasão cai. No 3° ano, nosso índice é de 0%”, explica o diretor. De acordo com o diretor Ariomar Nogueira, a evasão no 1° ano é de 1,5%. Dados da Secretaria de Educação informam que, em todas as outras escolas do DF, nas turmas de 1º ano do ensino médio, a evasão é de 8,6%.
Os alunos ingressam no Cemi apenas no 1° ano, selecionados por meio de concurso público. O edital de convocação é publicado no DODF (Diário Oficial do DF). Em 2015, foram mais de 1.000 inscrições para concorrer às 80 vagas ofertadas.
Dedicação
Os alunos ficam na escola das 7h30 às 17h45. Lá assistem a 10 aulas por dia e fazem todas as refeições. Para o diretor, além do empenho dos alunos, a dedicação do professor também é uma das causas do bom desempenho da escola. “Aqui os professores são dedicados. Temos muito trabalho, muitos projetos são tocados paralelamente às disciplinas”, afirma Ariomar.
“Essa escola tem um ritmo intenso para o professor. Sempre tem atividades e projetos. Precisamos estar atualizados”, garante o professor de física, Aldeny Lopes.
O professor conta que os alunos têm o seu número de celular e que, a qualquer momento, ele está disposto a tirar dúvidas. “Aqui os alunos aproveitam bem o seu tempo de estudos e, se surgir alguma dúvida, eles me chamam pelo WhatsApp.
Projetos pedagógicos
São vários os projetos pedagógicos do Cemi. Para a direção, esses projetos fazem o diferencial da escola e estimulam o convívio do aluno com o professor, já que ambos se envolvem em todos os processos, o que deixa a relação entre eles mais próxima.
No projeto Sarau, que faz muito sucesso, os alunos desenvolvem trabalhos de dança, música e teatro.
Na área cultural, o Cemi Curta, projeto de curta-metragem, é direcionado à consciência negra e desenvolvido na área de ciências humanas pelos professores de sociologia, filosofia, história e geografia.
Outro projeto de destaque da escola é a Expo Cemi – feira de tecnologia – que teve início na quinta-feira (27) e vai até domingo (30). Durante seis meses, os alunos desenvolvem plataforma ou aplicativos que são apresentado no dia da feira.
No projeto Saída de Campo, as turmas viajam para conhecer museus ou parques dedicados à história natural e do cerrado. Todo o conteúdo estudado é cobrado em prova. As viagens são feitas para localidades próximas, como Pirenópolis e Chapada dos Veadeiros.
Para Maria Celia, aluna do 2º ano, o Projeto Cemi Empresa é o que mais agrada. “É muito legal, porque a gente assume vários cargos na empresa”. Nesse projeto, cada aluno tem sua função na organização da empresa, de almoxarife a presidente, e aprendem a administrar. O projeto final da disciplina Organização e Norma da Área Técnica é avaliado pelos professores.
Enem
A metodologia utilizada e o esforço desenvolvido pela direção e pelos professores, além do empenho dos alunos, vêm rendendo frutos. No último resultado do Enem, divulgado em agora em agosto de 2015, a escola ficou à frente de escola tradicionais do Distrito Federal, sendo superada apenas pelos colégios Militar de Brasília e Dom Pedro II.
No Circuito de Ciências das Escolas da Rede Pública de ensino em 2014, o Cemi-Gama ganhou as cinco medalhas de premiação.
Vale a pena destacar que, no ranking do Enem, todas as escolas públicas do Distrito Federal ficaram bem atrás de escolas públicas de outras unidades da Federação.
Falta investimento
Mas, apesar do desempenho, nem tudo é fácil para o Cemi-Gama. A direção reclama de falta de investimentos por parte do governo. Segundo o vice-diretor a verba recebida pela escola em 2014 foi de R$ 5 mil, através do PDAF (Programa de Descentralização Administrativa e Financeira). “Este ano com a primeira remessa recebida do PDAF só conseguimos pagar dívida do ano anterior”, desabafa Carlos Lafaiete Formiga, informando que a primeira parcela recebida em 2015 foi no valor de R$ 56 mil.
Formiga lembra, por exemplo que a escola oferece curso profissionalizante de técnico em informática, o que torna necessário o investimento em laboratórios e reposição de equipamentos. “Quando vi os laboratórios dos Institutos de Educação que foram mais bem colocados no Enem, fiquei impressionado com a qualidade. Enquanto isso, a gente trabalha com laboratórios precários. Além de impressionado fiquei indignado”, ressalta o vice-diretor.
O diretor Ariomar Nogueira também falou sobre a necessidade de equipamentos para as dinâmicas das aulas, já que a escola precisa investir em tecnologia. “Hoje uma tela interativa faz falta, faltam livros técnicos e verba de capital para comprar suítes e cabos”, especifica.
Parcerias
A direção da escola também lembra que as escolas públicas mais bem colocadas na classificação do Enem tanto do estado de Minas Gerais quanto de Goiás são federais. Os Institutos Federais de Educação do Goiás das cidades de Itumbiara, Luziânia e Goiânia, por exemplo ficaram na frente de todas as escolas públicas do DF.
O diretor do Cemi lembra que no DF não existe acordo formal com a Universidade de Brasília, o que seria muito enriquecedor para a qualidade do ensino. Ele ressalta que as bolsas de estudo já ajudariam os alunos a pagar a produção dos projetos de ciência e investir nos livros. “Eles teriam mais condições financeiras para desenvolver estudos e projetos e teriam mais contatos com os professores universitários, o que seria um grande ganho”, classifica Ariomar.
Especialista
O professor Célio da Cunha, especialista em educação, aponta alguns fatos para justificar a queda da qualidade do ensino público no DF nos últimos anos.
“Brasília viveu muita instabilidade política nos últimos anos. Foram muitas mudanças de governos, vivemos a ameaça de intervenção, um mandato tampão. O último governo, todos sabemos o tamanho do rombo que deixou”, lembra Cunha.
Ele ressalta que precisamos de gestões continuadas de educação, ética e continuação nas políticas públicas de educação, valorização do magistério e um diálogo maior entre o secretário de educação e os professores. “É preciso instaurar um clima de confiança no DF na área da educação.”
Secretaria
Até o fechamento desta reportagem, a Secretaria de Educação não tinha respondido ao pedido de entrevista com o secretário para falar sobre a qualidade do ensino Distrito Federal.