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Coletivo de DJs promove evento de música eletrônica em praça no Gama
Coletivo de DJs transforma a cena cultural da região com batida eletrônica aliada a ações sociais
Batidas alucinantes, sons mecânicos, vocais suaves. A música eletrônica é um gênero que vai além do bate-estaca. Variações de ritmo, melodia e mixagem de diferentes tons transformam o ambiente e animam as pistas na capital federal. Para os entusiastas do estilo musical, é mais que música: é paixão. “E das antigas”, como enfatiza o produtor cultural e DJ Phylip Marks Rocha, o Phyl, 28 anos. “Minha vida é música eletrônica, a gente respira isso. Tenho uma relação muito antiga com o estilo e toco há nove anos”, relata o produtor.
O amor pelo gênero musical é grande e comparável ao que ele sente pela cidade onde nasceu, o Gama. E, para unir essas duas paixões, o coletivo de DJs da região, do qual Phyl faz parte, pensou em um evento que unisse tudo de uma forma acessível. Assim surgiu o Rolê no Bosque, que leva a música eletrônica às ruas, com o objetivo de democratizar o estilo musical por meio de intervenção cultural.
O local escolhido para a primeira edição do evento foi a praça da entrada do Gama, conhecida pela pista de skate, na Quadra 2 do Setor Norte da cidade. “Não sabíamos o que esperar no primeiro evento, porque eletrônico é um som rápido, agressivo e alto para muita gente. Pensamos em duas alternativas: ou todos vão embora e reclamam do rolê ou todo mundo apoia o movimento, curte e vai para a pista”, lembra Phyl.
Deu a segunda opção. O Rolê no Bosque foi um sucesso e, hoje, segue para a 6ª edição, prevista para o fim de julho. No último evento, 200 pessoas participaram, estimam os organizadores. Para o DJ e servidor público Matheus Cruz, 23, um dos idealizadores do projeto, o principal objetivo da festa é levar a cultura do eletrônico para outros pontos do DF. “A descentralização é a nossa principal ideia. Trazer o rolê para o Gama, tornar acessível a nossa música, é o que nos move. Tem gente de outras regiões, como Guará, Sobradinho e Cruzeiro vindo para cá e acreditando no rolê.”
O evento oferece diversidade de estilos de música eletrônica. Techno, minimal e por aí vai. A pretensão, inclusive, é ampliar o evento a outras áreas culturais. “Pensamos em aumentar o Rolê no Bosque e trazer coletivos de arte, exposições, feiras de artesanato também. A prioridade é para moradores do Gama. Procuramos por produtores, DJs e artistas da cidade”, destaca Phyl.
Além da música
Antes dos eventos, os organizadores realizam a limpeza do local, capinagem, grafitam manilhas de árvores e doam alimentos para ajudar algumas famílias. Uma delas é a da cearense Vera Lúcia da Silva Maporunga, 42, que se mudou para o Gama para realizar um tratamento no Hospital Sarah Kubitschek. Por conta da debilidade física, dona Vera, como é conhecida, passou por dificuldades financeiras e, muitas vezes, não tinha o que comer em casa. “Meu ex-marido está desempregado, e o benefício que recebo do governo vai todo para o aluguel. Com as doações de comida que eles arrecadaram na festa, ganhei uma cesta básica e muitos alimentos”, conta. A cadeira de rodas que estava quebrada foi substituída por outra, doada aos organizadores do Rolê no Bosque.
Respeito
“É a cena que a gente quer ver, a ocupação da praça, aglutinar os meninos e jovens em torno dessa cultura, de música de qualidade”, afirma Christiany Oliveira, gerente de Políticas Sociais, Cultura, Esporte e Lazer da Administração Regional do Gama. Para o próximo evento, a vistoria da praça já foi feita. Ela destaca a importância de oferecer cultura para o jovem gamense sem que ele precise se deslocar para outras cidades. “Os meninos, por meio da música eletrônica, mostram que o Gama pode ter essa pegada cosmopolita”, completa.
Um desses jovens é o estudante Sérgio Ricardo de Sousa Oliveira, 23, morador da Quadra 2, em frente à praça. “Participei de todas as edições do evento. A praça toda fica cheia, o pessoal passa a tarde de domingo aqui”, destaca. O estudante Carlos Alberto de Oliveira Júnior, 25, conheceu o evento por conta da amizade com os organizadores. “Só de não ir para o Plano, ter um rolê perto de casa, com meus amigos daqui da cidade e não gastar com entrada é uma ótima opção de diversão”, explica.
Para o DJ Phyl, se cada um fizer a sua parte, a mudança social é possível. “A gente trabalha para ajudar a cidade, para ter um evento de responsa, um som que a gente acredita, que é a nossa cara e que a nossa comunidade merece. Fazemos isso porque amamos a cidade e amamos a música eletrônica”, resume.
Diversidade
Confira alguns dos estilos de música eletrônica tocados no evento:
Techno
» Mais dançante, com ritmo acelerado, o estilo de melodia monótona surgiu na década de 1980
Minimal
» Ligado ao movimento de arte minimalista, o estilo musical segue a tendência do menos é mais
Drum and bass
» Mais conhecido como DnB ou D&B, o estilo, caracterizado por batidas rápidas, próximas a 170bpm, surgiu em 1990, na Inglaterra. Incorporou elementos do jazz, rock e reggae.
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer.
Por Fernanda Bastos*
Fonte: Correio Braziliense – 06/06/2019 06:00 / atualizado em 06/06/2019 14:35